quarta-feira, 17 de março de 2010

Filosofia para Crianças

O que é a Filosofia para Crianças?


A Filosofia para Crianças (FPC) é um programa de desenvolvimento do raciocínio que proporciona através da prática do diálogo, o desenvolvimento cognitivo, afectivo e social, das crianças e dos jovens, nomeadamente a nível da dimensão crítica, criativa e ética do seu pensamento, numa relação profunda entre o pensar, falar e o agir.

Em simultâneo, a FPC é também um instrumento para o desenvolvimento de disposições e atitudes conducentes a uma melhor inserção social das crianças e jovens, futuros cidadãos de uma sociedade democrática, num mundo em rápida mutação, em que a globalização coloca novos desafios.

No cerne encontra-se a noção inovadora de “comunidade de investigação” aplicada à educação, que na sua transposição prática assegura os valores da cooperação, tolerância, respeito mútuo, solidariedade e autonomia nas relações de todos os envolvidos na busca de conhecimento. Aprender a pensar melhor e de forma autónoma, é aqui um conceito central, tal como o é a busca do conhecimento de si mesmo.

Defendendo uma abordagem reflexiva da educação, que valoriza o potencial de apropriação e produção de conhecimento das crianças e jovens,- quer em relação a si mesmos, quer em relação ao mundo em redor,- a FPC enquadra-o na perspectiva mais vasta da formação global do individuo, em que a filosofia tem um papel integrador.

A constatação do professor Matthew Lipman, criador do programa de FPC, de que uma criança tem muito a aprender com os adultos, tal como os adultos aprendem muito com as crianças, acentua o carácter de disponibilidade intelectual e de abertura que é preciso ter por parte de quem quer fazer filosofia com crianças e jovens, sem esbater a sua responsabilidade pedagógica e científica.

Acentua ainda a vertente da educação entendida como uma tarefa conjunta: ao dar voz às crianças e jovens, de uma forma simultaneamente responsável e lúdica, a FPC torna-os participantes activos na própria educação.




Porque hão-de as crianças e jovens fazer filosofia?


Matthew Lipman, ao “reestruturar a filosofia para uso das crianças e dos jovens”, tornou possível a sua participação num diálogo filosófico, praticado numa linguagem comum, em articulação com todo um manancial de ideias, de teorias e de problemas, conversados ao longo de séculos, sob diferentes ângulos e que fazem parte da história da filosofia.

Numa sala de aula convertida numa “comunidade de investigação”, (ou num ambiente não formal) as crianças e jovens, que convivem com os personagens que habitam a história filosófica destinada à sua faixa etária, desenvolvem todo um conjunto de competências de pensamento (raciocínio, investigação, tradução, etc.) e de atitudes que, naturalmente, vão transferir para as outras disciplinas e se revelam vantajosas na sua vida quotidiana. Por exemplo:

· aprender a ouvir

· fazer perguntas cada vez mais pertinentes;

· verbalizar melhor;

· descobrir o valor das ideias, suas e dos outros;

· ganhar consciência do seu próprio pensamento, estruturando-o;

· tomar em conta várias perspectivas;

· ganhar autonomia do pensar e desenvolver uma consciência ética;

· saber ajuizar: autocorrigir-se, usar critérios apropriados e ser sensível ao contexto;

· expressar-se criativamente: transcender-se, ter em conta os critérios e o contexto;

· descobrir os vários tipos de relação entre pensar, falar e agir;

· desenvolver a capacidade de cooperação, estimular o respeito mútuo, melhorar a auto- estima;

· explorar e construir conceitos;

· estimular a apetência pela leitura, aprender a ler em profundidade, expandir o vocabulário;

· desenvolver a capacidade de escrita e o raciocínio matemático

· enriquecer-se com a diferença – com modos de ser, pensar, agir que não são os seus.




Como fazer filosofia com crianças?


A condução de um diálogo filosófico com crianças e jovens é uma arte. Como tal é algo que exige uma preparação adequada. Não se trata de ensinar filosofia, mas de fazer filosofia. A formação tem isto em consideração.

Para realizar cabalmente esta tarefa educativa não basta o acesso aos materiais. Independentemente do grau académico e área profissional de ensino, importa num primeiro passo, aprender a usar criativamente os materiais, - histórias filosóficas e manuais de apoio ao professor, - e a interiorizar a metodologia.

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